Autodefesa, armas nucleares e influência no Oriente Médio: o que querem Israel e Irã
17/06/2025
(Foto: Reprodução) Desde sexta-feira (13), países se enfrentam em ataques que já mataram mais de 240 pessoas. Programa nuclear iraniano está no centro do conflito. Israel e Irã intensificam bombardeios no quarto dia de guerra
Israel e Irã trocam desde sexta-feira (13) uma série de ataques que já deixaram mais de 240 mortos, segundo autoridades dos dois países. No centro do conflito está o programa nuclear iraniano. Além disso, ambos mantêm há anos uma disputa por influência no Oriente Médio.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
AO VIVO: Veja as últimas notícias sobre o conflito.
▶️ Contexto: Bombardeios foram registrados em grandes cidades iranianas e israelenses nos últimos dias. Explosões atingiram centros como Tel Aviv, Jerusalém e Teerã.
A operação militar foi iniciada por Israel, que afirma querer impedir o avanço do programa nuclear iraniano.
Segundo Israel, o Irã está muito perto de obter uma arma nuclear, o que representaria uma ameaça para a região e o mundo.
Israel tem mirado infraestrutura nuclear, cientistas do setor e a cúpula militar iraniana.
O Irã, que acusa Israel de crimes de guerra, ordenou uma resposta imediata e passou a lançar mísseis contra o território israelense.
O g1 e a GloboNews conversaram com especialistas para entender os objetivos de Irã e Israel no conflito atual. Uriã Fancelli, mestre em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Groningen, e Hussein Kalout, cientista político e pesquisador de Harvard, afirmam que nenhum dos dois países atingiu suas metas até o momento.
Os especialistas também veem com preocupação a ameaça do Irã de abandonar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP). Segundo eles, a saída do pacto pode aumentar a instabilidade e provocar uma escalada ainda mais perigosa no conflito.
Nesta reportagem você vai entender:
O que quer o Irã?
O que quer Israel?
O papel dos EUA e o acordo nuclear
1. O que quer o Irã?
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei
Office of the Iranian Supreme Leader/WANA (West Asia News Agency)/Handout via REUTERS
Desde a Revolução Iraniana, em 1979, o regime estabelecido pelos aiatolás passou a buscar a redução da influência do Ocidente no Oriente Médio e a projeção do Irã como uma potência regional.
Antes da revolução, o Irã era uma monarquia que tinha os Estados Unidos como um forte aliado. Além disso, o país também era amigo de Israel, sendo um dos primeiros do mundo a reconhecer o Estado israelense.
Com a queda da monarquia e a criação de uma república islâmica, o Irã mudou de rumo. Israel passou a ser visto como inimigo, e o país começou a atuar em diferentes frentes para ampliar sua influência na região:
Diplomática: o Irã se aproximou de países que fazem oposição a Israel e aos Estados Unidos no Oriente Médio, buscando alianças fora do eixo ocidental.
Econômica: o governo iraniano se tornou financiador de grupos armados que se opõem Israel na região. Essa rede ganhou forma ao longo do tempo, sendo atualmente conhecida como Eixo da Resistência.
Militar: além do apoio a grupos armados, o programa nuclear iraniano tornou-se um instrumento de barganha com as grandes potências mundiais. O Irã nega que deseja obter uma arma nuclear, mas o avanço no setor é visto como uma ameaça por países como EUA e Israel.
Para Uriã Fancelli, atualmente o Irã vive uma situação delicada. Além de enfrentar uma grave crise econômica, o governo lida com forte insatisfação popular e viu o enfraquecimento de aliados regionais, como Hezbollah e Hamas, além da queda do regime de Bashar al-Assad na Síria.
Segundo o professor, mesmo em meio à fragilidade, o regime autoritário tenta demonstrar força e dar sinais que segue ativo. Nesse cenário, Fancelli avalia que o país busca equilibrar dois movimentos ao mesmo tempo.
"Por um lado, o Irã responde militarmente aos ataques israelenses, exibe seu arsenal de mísseis e tenta sinalizar capacidade de dissuasão. Por outro, os relatos de que Teerã já pediu a mediação de países do Golfo para que pressionem Donald Trump a negociar um cessar-fogo mostram que as opções reais do regime são limitadas."
Em entrevista à GloboNews, o professor Hussein Kalout disse que o Irã ainda não atingiu seus objetivos estratégicos e deve manter a retórica de que segue participando das negociações sobre um acordo nuclear.
"O Irã busca tentar restabelecer algum poder dissuasório e fazer que o governo de Israel sinta o risco de manter essa escala no conflito", afirma.
Kalout também chama a atenção para a ameaça de Teerã de abandonar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. Segundo ele, essa decisão seria perigosa e pode levar o país por um caminho semelhante ao seguido pela Coreia do Norte.
Voltar ao início.
2. O que quer Israel?
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, durante pronunciamento em 21 de maio de 2025
REUTERS/Ronen Zvulun/Pool
Israel afirma que o Irã tem expandido sua força militar com o objetivo de destruir o Estado israelense. Teerã também é apontado por Israel como o principal patrocinador do terrorismo no mundo e uma ameaça direta.
Ao lançar um ataque na sexta-feira (13), Israel anunciou o início da operação "The Rising Lion" — ou "Leão em Ascensão" —, com a meta de eliminar a ameaça nuclear iraniana e com o argumento de autodefesa. Segundo autoridades, os objetivos são:
Destruir a infraestrutura nuclear e atrasar o programa nuclear do Irã.
Atacar a cúpula militar, de inteligência e científica envolvida no desenvolvimento nuclear.
Impedir de forma definitiva que o Irã consiga uma arma nuclear.
Reduzir a capacidade de ataque do Irã com a destruição do arsenal militar do país.
O bombardeio israelense atingiu instalações-chave do programa iraniano, incluindo a usina de Natanz, considerada o centro do projeto nuclear.
O ataque também provocou a morte de dois dos principais líderes militares do Irã, entre eles os chefes da Guarda Revolucionária e das Forças Armadas. Pelo menos 14 cientistas nucleares também foram assassinados.
Em pronunciamento, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu afirmou que o ataque destruiu grande parte do arsenal de mísseis balísticos iranianos.
Apesar de o governo israelense divulgar que grande parte dos objetivos foi alcançada, o professor Uriã Fancelli avalia que Israel ainda está longe de atingir suas metas. Ele cita, por exemplo, uma declaração de Netanyahu para derrubar o regime do aiatolá Ali Khamenei.
"Israel pode até afirmar que atingiu seus objetivos, mas a verdade é que ainda está longe disso."
Em relação à capacidade nuclear, Fancelli argumenta que o desmonte total do programa só seria possível com a eliminação completa da infraestrutura de enriquecimento de urânio e a neutralização da rede científica envolvida — algo considerado altamente desafiador.
"Não se sabe sequer se o Irã não mantém estoques ocultos em locais ainda desconhecidos. Além disso, Israel não conseguiu destruir por completo as instalações de Fordow, que estão a centenas de metros de profundidade e exigiriam o uso das Bunker Buster Bombs, armas que apenas os Estados Unidos possuem", afirma.
O professor acrescenta que, até agora, a ofensiva israelense não foi capaz de abalar as intenções do Irã. Pelo contrário: Teerã agora ameaça abandonar o Tratado de Não Proliferação Nuclear, o que, segundo ele, pode representar uma escalada ainda mais perigosa na região.
Hussein Kalout também avalia que Israel ainda não alcançou seus objetivos estratégicos. Segundo o cientista político, a guerra entre os dois países deve continuar por mais algum tempo.
"Israel não considera como uma opção paralisar o conflito, porque entende que ainda há espaço e cobertura internacional para continuar sua operação militar. E os iranianos estão, por ora, emparedados", afirma.
Voltar ao início.
3. EUA e o acordo nuclear
Trump no Salão Oval da Casa Branca em 19 de maio de 2025
REUTERS/Kevin Lamarque
Os Estados Unidos tentam convencer o Irã a interromper ou limitar o programa nuclear por meio de um acordo internacional. Em 2015, Teerã assinou um tratado com Washington e outras potências mundiais sobre o tema. Três anos depois, no entanto, os EUA se retiraram do pacto.
Ao retornar à Casa Branca neste ano, o presidente Donald Trump restabeleceu a política de “pressão máxima” contra o Irã. Na prática, ele impôs uma série de sanções para dificultar o avanço do programa nuclear.
O temor dos Estados Unidos é que o Irã desenvolva uma arma nuclear. Segundo a ONU, o país está próximo desse objetivo. Segundo Israel, Teerã já teria material suficiente para produzir nove bombas atômicas.
O governo iraniano, por outro lado, nega a intenção de produzir artefatos do tipo e afirma que seu programa nuclear tem fins pacíficos e civis.
Delegações do Irã e dos Estados Unidos chegaram a se reunir algumas vezes nos últimos meses, mas ainda não houve avanço nas negociações. Vale lembrar que o acordo assinado em 2015 foi resultado de anos de conversas.
Mesmo em meio ao conflito atual, Trump mantém a pressão e cobra um novo acordo nuclear “antes que seja tarde demais”. O presidente tem repetido que o Irã não pode ter uma arma nuclear e afirma que Teerã está perdendo o conflito com Israel.
Voltar ao início.
VÍDEOS: mais assistidos do g1