Justiça condena ex-presidente colombiano Álvaro Uribe a 12 anos de prisão domiciliar
01/08/2025
(Foto: Reprodução) Apoiadores do ex-presidente Álvaro Uribe participam de uma carreata em Cali, Colômbia, no dia 28 de julho de 2025
AFP
Uma juíza da Colômbia condenou nesta sexta-feira (1º) o ex-presidente Álvaro Uribe a 12 anos de prisão domiciliar pelos crimes de fraude processual e suborno em atuação penal, em um caso de manipulação de testemunhas. Uribe se tornou o primeiro ex-presidente condenado na história do país.
A sentença, assinada pela 44ª juíza de Bogotá, Sandra Liliana Heredia, também impôs uma multa de US$ 578 mil e determinou a inabilitação do ex-presidente para o exercício de funções públicas. Ela absolveu Uribe da acusação de suborno simples.
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O ex-presidente se declarou inocente durante o julgamento e sua defesa anunciou que recorrerá ao Tribunal Superior de Bogotá.
A decisão, confirmada por advogados envolvidos no processo, é a mais recente em um julgamento que se estende há quase 13 anos e tem dividido a opinião pública colombiana. Apoiadores do político alegam perseguição, enquanto opositores exigem justiça.
O político tem 73 anos e governou a Colômbia por dois mandatos consecutivos entre 2002 e 2010. Ele fundou o partido de direita Centro Democrático, principal adversário do governo do atual presidente Gustavo Petro.
Repercussão internacional
A condenação acontece às vésperas do início das campanhas para as eleições legislativas e presidenciais de 2026, que vão renovar o Congresso colombiano e eleger o sucessor de Petro. Aliados de Uribe devem concorrer aos cargos.
A repercussão internacional também pode gerar impacto nas relações com os Estados Unidos, maior parceiro comercial da Colômbia e aliado na luta contra o narcotráfico.
O secretário de Estado Marco Rubio criticou a sentença, enquanto Petro defendeu a independência do Judiciário. Analistas alertaram para possíveis cortes na ajuda americana ao país.
Um homem grita entre pessoas que seguram cartazes contra o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe em Bogotá, no dia 28 de julho de 2025
Rafael Arboleda/AFP
Paramilitares
O processo teve origem em 2012, quando Uribe acusou o senador de esquerda Iván Cepeda de organizar um complô para ligá-lo a grupos paramilitares.
No entanto, em 2018, a Suprema Corte concluiu que Cepeda agiu dentro de sua função parlamentar e que Uribe tentou influenciar testemunhas por meio de terceiros.
Uribe chegou a cumprir prisão domiciliar por dois meses em 2020, por determinação da Suprema Corte, sob suspeita de obstrução da justiça. Ele se juntou a uma lista de ex-líderes latino-americanos que enfrentaram processos criminais e até mesmo a prisão.
Durante seu governo, ele promoveu uma ofensiva militar contra guerrilhas de esquerda no conflito armado colombiano, que deixou mais de 450 mil mortos em seis décadas.
Os esquadrões paramilitares ilegais surgiram na década de 1980, financiados por fazendeiros, latifundiários e empresários para se protegerem de ataques da guerrilha, mas transbordaram para ataques sangrentos.
Uma comissão da verdade apontou que grupos paramilitares, em grande parte desmobilizados em 2005 sob um acordo com o próprio Uribe, foram responsáveis por pelo menos 205 mil assassinatos – o equivalente a mais de 45% das mortes no período.